domingo, 23 de outubro de 2011

Epilepsia: Uma chuva de neurotransmissores.



As primeiras descrições a respeito da epilepsia podem ser atribuídas aos egípcios e sumérios. Naquele tempo, havia uma vinculação entre as doenças e fenômenos sobrenaturais. Anos depois, em meados de 400 a.C., um senhor chamado Hipócrates - “Pai da Medicina” - disse que a epilepsia nada tinha a ver com esses mitos surreais e atribuiu causas físicas para as diversas doenças neurológicas, identificando o CÉREBRO como ponto de partida para o entendimento do comportamento humano, lançando um novo olhar para o sistema nervoso e impulsionando as pesquisas na área neurológica.

A epilepsia não se trata de uma única síndrome ou doença, mas sim de um grupo de males que têm como consequência comum cris


es epilépticas recorrentes, sem um fator externo desencadeante, acometendo tanto a população adulta quanto a infantil. É um distúrbio cerebral que afeta aproximadamente 1% da população mundial (60 milhões de pessoas) de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo a segunda causa mais frequente de procura por atendimento em centros neuropsiquiátricos, ficando somente atrás da depressão.

Os tipos de epilepsia variam tanto quanto as próprias funções cerebrais. Assim, o conhecimento da epilepsia se mistura ao conhecimento do próprio cérebro. Resumidamente, a doença é uma condição neurológica clinicamente caracterizada por crises espontâneas e recorrentes, convulsivas ou não convulsivas, que são causadas por descargas(parciais ou generalizadas) resultantes de hiperatividade dos neurônios e circuitos cerebrais.

Algumas pessoas com epilepsia apresentam níveis anormalmente elevados de neurotransmissores excitatórios que aumentam a atividade neuronal, enquanto outras têm um nível anormalmente baixo de neurotransmissores inibitórios que agem diminuindo a atividade neuronal no cérebro.

Os neurotransmissores que desempenham papéis significativos na epilepsia são o Glutamato (ácido glutâmico), que é um neurotransmissor excitatório e, curiosamente, precursor do maior neurotransmissor inibitório, o GABA(ácido gama-aminobutírico).A epilepsia pode resultar também de alterações nas células cerebrais não neuronais chamadas glia
, pois estas apresentam papel importante no controle das concentrações iônicas extracelulares regulando as concentrações de substâncias químicas no cérebro podendo assim afetar a sinalização neuronal, constatando seu envolvimento na atividade convulsivante.

Os sintomas particulares produzidos dependem da função da região cerebral afetada pela descarga(disparo neuronal sincrônico) e as crises podem ser ocasionadas por:

n Excesso de excitação mediada principalmente pelo Glutamato.


n Falta de inibição mediada principalmente pelo GABA.

O principal sintoma da epilepsia, a crise convulsiva, desencadeada pela sincronização de uma descarga excessiva em uma rede de neurônios, não caracteriza isoladamente a epilepsia. O que caracteriza um estado epiléptico é o caráter recorrente do ataque.

A neurobiologia de uma convulsão é distinta da neurobiologia da epilepsia. Uma crise convulsiva é uma descarga elétrica cerebral desorganizada que pode se propagar para todas as regiões do cérebro, levando a uma alteração de toda atividade cerebral. Pode se manifestar como uma alteração comportamental, na qual o indivíduo pode falar coisas sem sentido, por contrações musculares involuntárias, quando o indivíduo começa a se debater, ou mesmo através de episódios nos quais o paciente parece ficar "fora do ar", no qual ele fica com o olhar parado, fixo e sem contato com o ambiente.

Qualquer lesão cerebral é um fator potencial para a ocorrência de epilepsia, no entanto, a maioria dos casos estudados são idiopáticos.Quando as crises ocorrem na sequência de uma lesão cerebral identificável, como por exemplo, no caso de câncer, traumatismo ou infecções, há uma epilepsia sintomática. No caso de desconhecimento da etiologia da doença, mas presumindo que seja sintomática, ela é denominada criptogênica.

Fatores de risco para epilepsia:

· Convulsões febris na infância;

· AVC;

· Alzheimer;

· Infecção do sistema nervoso central;

· Antecedentes de traumatismo cranioencefálico;

· Certos medicamentos (anestésicos, antibióticos, analgésicos e antidepressivos).


O tipo mais comum de epilepsia é a Epilepsia do lobo temporal na qual as convulsões são caracterizadas pela dificuldade de descrevê-las. O lobo temporal controla as emoções e a memória, assim, as convulsões geralmente irão alterá-las. Pessoas com epilepsia do lobo temporal descrevem emoções estranhas, velhas lembranças que vêm à mente ou alucinações.

As sequelas mais comuns do estado epiléptico compreendem as convulsões recorrentes espontâneas, os déficits neurológicos permanentes e a disfunção intelectual. O tratamento das epilepsias é feito através de medicamentos que agem na estabilização das membranas celulares, diminuindo o fluxo exagerado de íons, ou aumentando neurotransmissores inibitórios ou ainda diminuindo a ação de neurotransmissores excitatórios evitando assim as descargas cerebrais anormais, na tentativa de suprimir as crises.





Curiosidades:

Celebridades epilépticas:

· Vincent van Gogh, um dos mais prestigiados pintores da história, autor de obras clássicas, como “O Grito” e “Os Girassóis”;

· Joana D’Arc, heroína da Guerra dos Cem Anos, que se tornou mártir após ser queimada viva e se constitui numa das mais cultuadas personalidades femininas da história da França;

· Fiódor Dostoiévski, escritor russo, cujos auto-relatos sobre crises epilépticas se tornaram antológicos na literatura, através de personagens em seus romances;

· Machado de Assis, a quem muitos consideram como o maior de todos os escritores brasileiros, sendo um dos criadores da crônica no país e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letra

· Lênin: pensador do marxismo, o revolucionário russo desenvolveu epilepsia nos últimos anos de vida.


Bibliografia

· http://www.epilepsiabrasil.org.br/publico/tratamento.asp

· http://www.epilepsia-cirurgia.com.br/etapas_investigacao.htm

· http://www.bv.fapesp.br/pt/projetos-tematicos/855/epileptogenese-seres-humanos-caracterizacao-molecular

· http://www.biotecnologia.com.br/revista/bio09/plastic.pdf

· http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/agosto2002/unihoje_ju185pag4a.html

· http://www.labjor.unicamp.br/midiaciencia/article.php3?id_article=515

· http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-60832004000600004&script=sci_arttext

· http://www.scielo.br/pdf/rpc/v30n3/v30n3a01.pdf

· http://www.ibb.unesp.br/departamentos/Farmacologia/material_didatico/Profa_Mirtes/EPILEPSIA/BASES_NEUROBIOLOGICAS_EPILEPSIA.pdf

· http://www.palotina.ufpr.br/neurologia/topicos_neurologia/convulsoes_epilepsia.pdf

· http://warneroliveira.com.br/?p=7171 (imagem)

· http://www.estsp.pt/~ne10308162/epilepsia/Untitled-23.htm (imagem)

· http://guerradosneuronios.blogspot.com/2007_05_01_archive.html (imagem)

· http://www.psiquiatriageral.com.br/epilepsia/crise.htm (imagem)

· http://www.youtube.com/watch?v=tGZbmLPiZMU

· http://www.youtube.com/watch?v=SXCPmVwEbF8

Um comentário: